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Homem que matou filho de um ano, já cumpriu dez anos de pena por ter matado a própria mãe e, conta friamente o que fez com a criança

‘Impressão de que planejou tudo’, diz delegado sobre acusado de matar filho

Todos os dias, Bernardo da Silva Marques Osório, de 1 ano e 11 meses, aguardava a chegada do pai, o servidor público Paulo Roberto Caldas Osório, 45, em uma creche da 906 Sul. Antes de reencontrar a mãe, com quem morava no Lago Sul, o menino passava um tempo na casa do agente de estação da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô/DF), na 712 Sul. Na última sexta-feira, como de rotina, o garoto entrou no carro, mas, daquela vez, recebeu um suco de uva. Tomou a bebida e, ao chegar à residência, passou mal e vomitou. O pai deu um banho na criança e a vestiu. Em seguida, o filho adormeceu. Nunca mais acordou.

Segundo o depoimento de Paulo Roberto de Caldas Osório, 45 anos. Ele confessou ter dado uma dose de remédios controlados para o próprio filho misturado ao suco. A criança teria morrido após ser pega pelo pai na escola, na sexta-feira (29/11/2019).

Osório, que é agente de estação do Metrô-DF, admitiu que estava chateado com a mãe da criança, Tatiana da Silva, 30. A mulher recorreu à Justiça em busca de pensão para o filho. “Eu estava num momento de necessidade. Meu pai tinha morrido. Teve a greve do Metrô. E ela não precisava do dinheiro”.

Revelou como deu a medicação à criança, quando descobriu que o filho havia morrido e porque decidiu descartar o corpo às margens da rodovia que liga os estados de Goiás e da Bahia: “Pensei na merda que ia dar”. Toda a história é contada sem emoção, com frieza.

Segundo a investigação, Paulo Roberto — o homem cumpriu pena de 10 anos por matar a mãe, em 1992 — havia colocado três remédios para dormir no suco do filho e, quando constatou a morte do menino, abandonou o corpo às margens da BR-020 e fugiu para a Bahia. Para a polícia, ele cometeu o assassinato por vingança contra a mãe da criança, a advogada Tatiana da Silva Marques, 30, e a ex-sogra, Juciane Mascarenhas Nascimento, 57.

Em depoimento à Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS), o servidor público explicou que não gostou de a ex-namorada ter entrado com pedido de pensão alimentícia na Justiça, em 29 de agosto. “Fiquei chateado, pois estou passando por uma fase bem difícil. Perdi o meu pai, tive de fazer o inventário e pagar algumas coisas dele. Houve a greve do metrô. Então, achei muito oportuno elas virem justo agora, sendo que não tinha necessidade. Elas não precisam do dinheiro”, alegou.

Para o delegado Leandro Ritt, titular da DRS, o servidor público premeditou o crime. “Não foi só pela pensão, tiveram outros fatores. Ele relatou desrespeito e humilhação. Então, o que parece é que as frustrações se acumularam e acabaram nessa tragédia. A principal impressão é de que ele preparou tudo e tinha, sim, a intenção de matar. Ele pensou em um assassinato indolor ao filho, pois, na cabeça dele, nutria uma afeição pelo menino”, analisou.

Bernardo

O investigador destacou que Bernardo morreu no dia do sequestro, quando passou mal na residência do pai. “Na casa, havia uma grande quantidade de vômito da criança; por isso, essa é a teoria mais provável”, disse. Após o assassinato, o objetivo de Paulo Roberto era prosseguir com o plano de vingança. “Ele nutre um ódio muito forte pela mãe do garoto, mas, sobretudo, pela ex-sogra. Acredito que esse sentimento provocou uma ira tão grande que a afeição que ele sentia pela criança foi deixada de lado. Tudo isso para colocar essas pessoas em um profundo sofrimento”, acrescentou Leandro Ritt.

Ameaças

A aflição da advogada Tatiana começou na sexta-feira, quando o filho foi sequestrado pelo ex após buscá-lo na creche. Mesmo após ligar para o celular de Paulo Roberto e procurá-lo em casa, ficou sem respostas. Dois dias depois do crime, no domingo, o servidor público fez contato com a mulher por meio de mensagens enviadas pelo celular. Tatiana tomou a iniciativa da conversa: “Paulo, a gente sempre tentou manter contato e uma amizade com você. Você nunca quis. A gente sempre quis estar presente com o Bernardo, sempre fizemos tudo. Como você faz uma coisa dessas? O negócio é dinheiro? Pode ficar com o seu dinheiro, eu não preciso dele, não. Só quero meu filho.”

Paulo respondeu, escrevendo que a ex-namorada passaria o resto da vida sem ver o filho: “Boa sorte pra você. Espero que sofra muito. Eu falei que, no dia que você se metesse entre eu e o meu filho, eu ia passar por cima de você. Agora, você está entendendo o recado? Você não vai ver Bernardo mais nunca. Você vai morrer sem vê-lo.”

Buscas

Depois de envenenar o filho, o servidor público seguiu de carro com a criança pela BR-020. À polícia, contou que apenas percebeu que o filho estava morto em um posto de gasolina. “Olhei pelo retrovisor e notei que ele estava com a cabeça muito de lado. Fui arrumá-lo na posição, e a cabecinha dele estava muito mole. Assustei-me. Pulei para o banco de trás para ver os sinais (vitais) dele”, descreveu, em depoimento aos investigadores.

Ao constatar a morte de Bernardo, Paulo Roberto seguiu dirigindo e decidiu deixar o corpo da criança em área de vegetação densa, após a divisa de Goiás com a Bahia. A Polícia Civil do DF realizou buscas nesta quarta-feira (4/12), com veículos terrestres e um helicóptero, mas não encontrou o garoto. O ponto inicial foi Roda Velha, um distrito do município baiano de São Desidério, distante 665km de Brasília.

“Os policiais foram 50km adiante da cidade, rumo a Salvador, e 50km no caminho inverso. No total, foram 100km de buscas infrutíferas, pois ele indicou o local errado de onde a criança foi deixada. Desde o princípio, o objetivo de Paulo era perpetuar o sofrimento da mãe de Bernardo e da ex-sogra para que elas, realmente, nunca mais vissem o menino. Ele não quer que o corpo seja encontrado”, ressaltou o delegado Leandro Ritt.

Esperança

O fato de o corpo de Bernardo não ter sido encontrado mantém a esperança no coração da mãe, Tatiana Marques. “Minha ficha não caiu ainda. Eu tenho expectativa de que meu filho vai ser encontrado com vida. De vez em quando, eu choro, mas estou tentando ser forte pela minha família”, lamentou a advogada. Ao Correio, ela ressaltou que namorou Paulo por um tempo, mas que não chegaram a se casar.

A advogada descreveu a relação deles como harmoniosa. “Nunca tivemos problemas ou brigas. Tudo era conversado. O desentendimento começou por causa da pensão”, lamentou. A mulher também ressaltou que não sabia dos antecedentes do ex-namorado, condenado pela morte da mãe há 27 anos.

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