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Lideranças religiosas prestam homenagem às vítimas da Covid-19 no dia de Finados

A pandemia de Covid-19, causada pelo novo coronavírus, provocou mudanças na rotina das pessoas devido às medidas de proteção, como evitar aglomerações e manter o isolamento social. Em Manaus, o Dia de Finados, 2/11, também trouxe esse signo de mudança social. Com os cemitérios fechados, sem possibilidade de visita aos túmulos, a Prefeitura de Manaus realizou, no final da tarde desta segunda-feira, uma cerimônia transmitida ao vivo pela internet com a presença de líderes religiosos para que não faltasse aos familiares e amigos a oportunidade de homenagear seus entes queridos.

“Não foi fácil decidir manter os cemitérios fechados para visitação no Dia de Finados. Sei da importância desta data, sobretudo em um ano com tantas perdas por causa da Covid-19. Mas precisamos preservar as vidas e cuidar da saúde e segurança das pessoas. Assim como toda população de Manaus, também fiz de casa as minhas homenagens aos meus entes queridos e acompanhei a linda homenagem dos líderes religiosos. Assim, proporcionamos uma forma moderna e segura de homenagear àqueles que perderam suas vidas para essa terrível doença e também demonstramos respeito à diversidade das religiões, unidos pela fé”, afirmou o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto.

A cerimônia, batizada de “Momento de Oração”, foi celebrada diretamente no cemitério Nossa Senhora Aparecida, bairro Tarumã, zona Oeste, que recebeu durante o período mais grave da pandemia, entre abril e maio, o maior número de mortos pela Covid-19. A “live” em memória dos mortos pela Covid-19 foi transmitida ao vivo pela página da Prefeitura de Manaus no Facebook.

Ao todo, foram dez líderes religiosos convidados, de nove religiões: Elizete Tikuna, do Parque das Tribos; o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner e o padre Zenildo, da igreja Católica; o pastor André Castilho, da Ordem dos Ministros Evangélicos do Amazonas; Alberto Jorge, representando religiões de matrizes africanas; Isac Dahan, do Comitê Israelita; Afonso de Ligorio Machado, da igreja Messiânica; Tamer Mohamed, do Centro Islâmico de Manaus; Dilton Vasconcelos, da Federação Espírita; e o missionário Paulo Cesar Santos, da Sukyo Mahikari.

“Essa cerimônia se reveste de três grandes significados: a reverência aos nossos entes queridos, a tolerância religiosa, porque aqui se fazem representar diferentes matrizes de fé da nossa população, e todos se respeitando, e o cumprimento dos protocolos de segurança para prevenção da Covid-19, mantendo o distanciamento necessário, já que a situação da pandemia ainda é grave”, declarou Einsenhower Campos, subsecretário de gestão da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), órgão que gerencia os cemitérios públicos.

Durante a transmissão, que durou aproximadamente 90 minutos e alcançou mais de 17 mil pessoas, os internautas fizeram suas próprias homenagens, escrevendo nomes de familiares mortos e reforçando as orações. “Em homenagem à Raimundo Alexandre da Silva Filho, ex marido; Maria Conceição Pacheco, sogra, desejo que Deus os iluminem”, escreveu Umbelina Procópio da Silva. “Saudades do meu esposo Antônio de Pádua Barbosa Corrêa. Descanse em paz, meu eterno amor”, comentou Marilélia Araújo.

Celebração

A representante indígena Elizete Tikuna, moradora do Parque das Tribos, zona Oeste, entoou um rito indígena em tributo aos mortos e, especialmente, aos seus familiares mortos na pandemia. Ela também cantou o hino nacional em língua ticuna. “Nós vamos vencer. Vamos sair disso e retornar plenos e vivos de novo”, afirmou.

Para as lideranças religiosas presentes, a cerimônia deu a oportunidade para a celebração dos mortos, acima de qualquer diferença religiosa. “O que pretendemos, a partir da sensibilidade religiosa, é encontrar respostas para esse momento tão difícil para as pessoas, que não podem estar presentes nos locais onde estão enterrados seus mortos”, disse o padre Zenildo, na abertura da cerimônia.

Para o líder representante das religiões de matizes africanas, é preciso também respeito pela vida com a adoção das medidas de segurança para evitar a contaminação de mais pessoas. “Para nós, há a crença da criação do homem pelos orixás, da existência da morte como equilíbrio da vida e o recomeço, o retorno a Deus. Com a morte retornamos ao único Deus”, afirmou Alberto Jorge. “A morte é o lugar em que nos nivelamos, em que não há diferenças. É ter fé e esperança na vida que nos foi prometida em vários credos”, completou.

Presente no evento representando os evangélicos, o pastor André Castilho, também destacou a união nesse momento difícil e o respeito à fé entre suas várias manifestações. “Eu estou com o coração cheio de paz nesse evento, porque estamos consagrando ao nosso Deus e homenageando nossos mortos”, disse o pastor.

Todos também fizeram referência ao momento que está passando a humanidade com a pandemia. “É importante que a dor da perda não seja muda, mas seja solidária a dor alheia. Isso sim é amar ao próximo e amar a Deus”, afirmou o representante da Federação Espírita, Dilton Vasconcelos. “Todos nós temos em cada um pedacinho de Deus. Podemos orar com veemência, com intenção de coração e ele pode ouvir para vencer a pandemia” destacou Isac Dahan, do Comitê Israelita. “Diante deste momento que vivemos percebemos o quanto somos frágeis e quanto temos que buscar cada vez mais estarmos no caminho de Alá”, refletiu o representante do Centro Islâmico de Manaus, Tamer Mohamed. “Nesse processo evolutivo alternando vida e morte estamos cumprindo a missão de concretizar o plano de Deus de construir o reino dos Céus na terra, o paraíso terrestre”, exaltou Afonso de Ligorio Machado, representante da Igreja Messiânica. “A morte é apenas uma transição”, completou o missionário Paulo Cesar, da Sukyo Mahikari.

Encerrando a cerimônia, dom Leonardo Steiner, justificou que a forma encontrada para homenagear a memória dos entes queridos, nesse momento de pandemia, não reduz a intensidade da manifestação de respeito. “Os cemitérios estariam plenos de pessoas, flores, velas e orações, o que não foi possível. Mas encontramos uma forma de deixar que o coração eleve a oração. Esse momento de manifestação de múltiplas religiões foi a forma encontrada e estamos fazendo isso em nome de todas as famílias e pessoas da nossa cidade”, lembrou o arcebispo de Manaus.

Fotos – Alex Pazuello / Semcom
Texto – Jacira Oliveira / Semcom

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