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Travesti venezuelana é espancada com facão e acusada de roubo; ‘aqui é Brasil’, diz agressor

Uma travesti venezuelana de 20 anos foi filmada sendo agredida por brasileiros que a acusaram de tentativa de roubo na madrugada da última sexta-feira, em Boa Vista, capital de Roraima.

Nas imagens que viralizaram nas redes sociais, a jovem Duvlaska Abreu está ao chão coberta de sangue e, enquanto é filmada, o homem que grava diz: “tem que aprender, filho da puta, aqui é o Brasil, Brasil, tá roubando brasileiro”, grita.

Ela foi agredida com golpes de facão , segundo o autor das imagens Alecsander Freitas, que alegou inocência e diz apenas ter filmado a cena. Ninguém foi preso. A vítima foi levada ao Hospital Geral de Roraima onde segue internada.

Em nota de repúdio, a Associação de Travestis e Transexuais de Roraima (ATERR) exigiu apuração do espancamento da travesti, registrada em fotos e vídeos.

“As imagens citadas mostram uma travesti sendo violentamente agredida, sob os gritos de ‘Aqui é Brasil’, o que pode ser considerado como mais uma manifestação de ódio trans e xenofóbico. No Brasil, a população trans vive atingida cotidianamente pela violência que se manifesta na falta de oportunidades, no preconceito e na conivência criminosa do Estado, que muitas vezes se nega a punir os responsáveis por crimes que atentam contra a vida das pessoas Trans, como o que se vê nas imagens”, descreve um trecho da nota.

As cenas gravadas são fortes e exibem mais de um minuto de registros. Nas imagens, Duvlaska Abreu é cercada por brasileiros enquanto se arrasta no asfalto na tentativa de se distanciar dos agressores. Em um momento, tenta se levantar, mas é derrubada.

-Ei, ei, baixa. Levanta, não! Senta, senta, filho da puta, senta! – ordena o técnico em eletrônica Alecsander Freitas, de 23 anos, durante a filmagem que faz da travesti sendo empurrada ao chão por outro brasileiro com o corpo e rosto coberto de sangue.

Em meio a agressões e puxões de cabelo, a venezuelana nega que tenha tentado roubar celular de algum brasileiro.

-Não roubei. Não roubei. (…) Ganho R$100 por dia – se defende.

De acordo com Freitas, ele também teria sido vítima de Duvlaska Abreu quando voltava para casa ao sair do trabalho.

-Ela tentou me roubar dinheiro quando voltava para casa. Pulou em frente a minha moto. Ameaçou ainda jogar ácido em mim. Deixei a moto que pilotava na rua ligada e saí correndo. Um homem foi até a travesti e tomou a chave dela e me devolveu. Só pediu para eu não chamar a polícia, mas já havia feito isso – conta ele, que admite que a travesti foi agredida “ao extremo”.

Mesmo assim, ele ameniza sua participação e diz ter “apenas filmado e a segurado”.

-Não bati. Quem a agrediu foi um homem com facão. Ele chegou ao local quando o tumulto já estava formado em volta dela, e já foi golpeando a travesti no rosto, nas costas, nas pernas. Acertou para cortar. Eu e um vigilante pedimos para ele parar porque poderia mata-la. Ele estava embriagado. O homem subiu na moto que estava e foi embora. A travesti teve um corte profundo na testa – relata Freitas.

Agressores foram liberados

De acordo com ele, o homem com facão seria outra vítima da travesti e estava revoltado porque ela havia roubado sua carteira e celular. O suspeito não foi localizado pela Polícia Militar.

Freitas alega ter chamado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e ficou no local aguardando ser conduzido à Central de Flagrantes, no 5º Distrito Policial. Mais duas pessoas, que teriam participado das agressões, também foram levadas. De acordo com ele, todos foram ouvidos e liberados.

– Nunca pensei que as agressões chegariam a esse ponto, e ter essa repercussão. Eu mesmo não estou acreditando. No momento da emoção, não temos noção do que pode ser propagado. Estava indignado por eu ter sido confrontado. Ela achava que nada ia acontecer com ela porque conhece os direitos dela. Não tenho nada contra travesti – justifica.

Embora lamente a violência, Freitas não mostra indignação enquanto filmava as agressões à vítima. Em todo momento, imputava a tentativa de roubo e vociferava xingamentos e discurso de ódio.

Sebastião Diniz, presidente do grupo LGBTQI+, disse que o caso será levado à Defensoria Pública de Roraima. A Polícia Civil não respondeu se vai apurar as agressões.

-Estamos cobrando apurações para que não vire moda sair agredindo todo mundo sem provas. Queremos justiça em todos os casos – declara.

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