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Rendesivir, único remédio aprovado para tratar Covid no Brasil, ainda não foi adotado no país

O rendesivir, único remédio aprovado no Brasil para a Covid-19 com indicação específica para isso na bula, ainda não foi incorporado no tratamento da doença no país. As negociações do laboratório americano Gilead, seu fabricante, com o Ministério da Saúde para incluí-lo no Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não renderam frutos.

A aprovação para o uso do rendesivir contra a Covid no Brasil foi dada em 12 de março, há um mês, portanto, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ainda assim, desde então, não houve também, ao menos por enquanto, uma “corrida” atrás dessa medicação na rede privada. O Globo procurou, por meio de suas assessorias de imprensa, grandes hospitais particulares do país, para saber se já empregam o produto no seu dia a dia.

Tanto a Rede D’Or São Luiz quanto o Hospital Sírio-Libanês responderam que não adotam por enquanto o rendesivir. Também contactado, o Hospital Israelita Albert Einstein não informou sua prática.

Já em alguns dos outros mais de 50 países em que foi autorizado, como os Estados Unidos (por lá o antiviral ganhou aval do órgão regulador em 22 de outubro de 2020), o medicamento passou a fazer parte dos protocolos médicos para os pacientes infectados com o Sars-CoV-2 que se encaixam nas indicações. Atualmente, segundo a farmacêutica Gilead, 50% dos americanos internados com Covid fazem uso do rendesivir, conhecido também pelo seu nome comercial, Veklury.

A Índia é outro dos países que incorporaram o rendesivir no tratamento da Covid. O país asiático, que atualmente vive uma explosão de casos da doença, inclusive proibiu nos últimos dias que o medicamento seja exportado, priorizando a demanda interna.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, não endossa o uso, porque, na sua avaliação, não há evidências suficientes de eficácia. O órgão destaca que a mortalidade não caiu em estudo amplo que comparou pacientes que usaram rendevisir com outros que não receberam esse tratamento.

A Gilead, no entanto, defende que os estudos submetidos às agências reguladoras comprovam outro ponto benéfico do seu antiviral, que inicialmente foi estudado para o ebola: a redução do tempo de hospitalização dos pacientes com Covid.

— A gente não quer que os pacientes que hoje estão em enfermaria vão para um leito de UTI e onerem ainda mais o sistema público, que já está em colapso. Não é um remédio para todo mundo, não é a salvação da pandemia, porque ele tem uma indicação muito precisa, mas neste momento que o Brasil está vivendo poderia nos ajudar muito — opina Rita Manzano Sarti, infectologista e diretora médica da Gilead Sciences no Brasil.

A indicação precisa a que ela se refere é de que o uso seja apenas hospitalar, para pacientes internados com pneumonia causada pela Covid que estão usando oxigênio com fluxo de baixo a alto. Não há recomendação, portanto, para os que estão intubados e em ventilação mecânica. A aprovação da Anvisa vale para pacientes adultos e adolescentes, com idade igual ou superior a 12 anos e com peso corporal mínimo de 40 quilos. Para esse perfil de paciente, os cientistas concluíram que o uso do rendesivir foi capaz de abreviar o tempo de internação de 15 para 10 dias.

‘Proibitivo’

Para a infectologista Eliana Bicudo, que é consultora médica da Sociedade Brasileira de Infectologia e já acompanhou dois pacientes que usaram o rendesivir em Brasília, com sucesso, o valor do tratamento é o grande entrave para a adoção mais ampla no país.

— Eu sou da opinião de que a gente poderia realmente considerar essa medicação, mas os custos são proibitivos — diz. — Eram pacientes que tinham dinheiro e pagaram por fora a medicação. Um deles tinha 70 anos, estava evoluindo mal e preenchia os critérios, então sugeri como mais uma arma. [Depois do uso] ele ficou bastante tempo com catéter nasal de alto fluxo [de oxigênio], mas não foi para a ventilação mecânica e evoluiu bem — recorda ela, que conta ter se amparado nas diretrizes da IDSA (Infectious Diseases Society of America), sociedade de infectologia dos EUA, ao sugerir o tratamento.

No Brasil, o custo máximo da dose do rendesivir, de 100 mg, já está definido na tabela da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que estabelece os limites de preço que podem ser cobrados por cada remédio no Brasil. Cada dose do medicamento, que é importado, pode sair por até R$ 2.386,62, sem contar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que varia de estado para estado no país.

Pelo tempo necessário do tratamento, que é de cinco dias, sendo que no primeiro deles a dose é dobrada, o custo fica em até R$ 14.319,72 por paciente, fora o ICMS. No mercado dos EUA, o valor também é alto: o tratamento custa cerca de US$ 3 mil (em torno de R$ 17 mil).

No caso dos pacientes com plano de saúde, porém, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) afirma que já está previsto que o rendesivir precisa ser coberto pelas operadoras. “É de cobertura obrigatória pelas operadoras de planos de saúde, quando indicado pelo médico assistente para o tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19 (nos termos da bula registrada na Anvisa), durante a internação hospitalar”, informou o órgão em nota.

O laboratório Gilead não dá detalhes da negociação com o Ministério da Saúde, mas afirma que é possível chegar a valores menores para a adoção da droga no sistema público. Nas últimas semanas, diante da reticência do governo federal nas discussões, a farmacêutica emitiu nota à imprensa afirmando que “nos causa surpresa o posicionamento do Ministério da Saúde em relação à eficácia e segurança do medicamento Rendesivir”.

Procurada pela reportagem, a pasta não respondeu sobre seus planos em relação ao antiviral.

Na fila

O campo das medicações contra Covid no Brasil pode ficar mais amplo se forem aprovados dois coquetéis de anticorpos das farmacêuticas Eli Lilly e Roche. Ambos os pedidos de uso emergencial foram feitos à Anvisa nas últimas semanas, entre o final de março e o começo de abril.

Eliana Bicudo vê com otimismo a possibilidade de tratamento com a combinação de bamlanivimabe e etesevimabe, da Lilly, e de casirivimabe e imdevimabe, da Roche. Os custos, ainda não revelados para o país, também vão definir se esses coquetéis pegarão por aqui, avalia ela, mas a utilidade no dia a dia já parece evidente.

— Agora mesmo estou cuidando de um senhor de 190 quilos com Covid. Se eu tivesse um anticorpo monoclonal hoje, eu já tinha aplicado nele, porque já sei que ele não vai evoluir bem e não tenho nada para impedir — conta a infectologista.

Ambos os coquetéis são indicados para o começo da doença. A combinação da Lilly, em um dos grupos avaliados na fase 3 dos estudos, com 769 pacientes de alto risco, de 12 anos ou mais, com Covid leve a moderada, reduziu os riscos de hospitalização e morte em 87%. Entre os que tomaram os medicamentos foram quatro eventos (de hospitalização ou morte), contra 15 entre os que tomaram placebo.

Já os produtos da Roche mostraram nos testes uma redução de 70% nas hospitalizações ou mortes, além de menor duração dos sintomas de 14 para dez dias. A fabricante recomenda o tratamento para “pacientes adultos e pediátricos (12 anos de idade ou mais), infectados pelo Sars-CoV-2 que não estão hospitalizados e possuem fatores de risco de progressão para a Covid-19 grave”, segundo a assessoria de imprensa da empresa no país.

Nos Estados Unidos, onde o coquetel da Roche ficou conhecido após ter sido usado no tratamento para Covid do então presidente Donald Trump, a farmacêutica, que é parceria do laboratório Regeneron nesse projeto, pleiteia agora ampliar sua aprovação de uso para a prevenção da infecção. Pessoas que moram com alguém com Covid poderiam se beneficiar, por exemplo.

Procurada pela reportagem, a Anvisa informou que os pedidos de uso emergencial dos dois coquetéis, tanto da Lilly quanto da Roche, seguem em análise. A agência tem o prazo de 30 dias para fazer a avaliação, contando a partir do momento em que seus técnicos considerem que as dúvidas técnicas foram sanadas.

Fonte: Yahoo Noticias

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