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Enóloga fala de vinhos e machismo: “Perdi vaga por contratarem só homens”

A enóloga Cynthia Malacarne viajou por países da América e da Europa para conhecer e estudar a bebida.

Uvas de todos os tipos servem de base para uma das bebidas queridinhas dos brasileiros, o vinho. O consumo cresceu de 2,13 para 2,37 litros por pessoa, de 2019 para 2020. O aumento é de cerca de 11%, segundo a Ideal Consulting. E foi a bebida de Baco que mudou a vida de Cynthia Malacarne. Há seis anos, a enóloga deixou o Direito Internacional e passou a se dedicar a uma antiga paixão, o estudo dos vinhos.

“Sempre tive paixão por cozinhar, e o vinho veio mais tarde, aos 21 anos. Quando fui fazer mestrado na Espanha, conheci o universo e me apaixonei. E desde então não consegui mais deixar de estudar e conhecer os vinhos e as diversas regiões vitivinícolas no mundo”, conta Cynthia.

Para conhecer mais sobre vinhos, a especialista ingressou no mestrado em Engenharia Viticultura e Enologia, na Universidade de Lisboa. Antes de Portugal, Cynthia morou nos Estados Unidos e teve a oportunidade de conhecer vinhos e regiões vitivinícolas do país. E após três anos em Lisboa, ela se mudou para o Chile, porque considerava importante ter uma experiência com os rótulos chilenos.

Mercado machista

Cynthia Malacarne é uma personalidade em um ambiente que segue em evolução. A presença das mulheres ganha cada vez mais força na produção e consumo de bebidas alcoólicas. Houve um aumento de 17% no consumo de bebidas alcoólicas por mulheres entre 2019 e 2020, segundo pesquisa feita pela revista médica JAMA Open Network. Elas também marcam presença na hora de estudar, produzir e vender bebidas. Leandro Dias, um dos responsáveis do curso Lucrando com bebidas, conta que percebeu mais mulheres interessadas no curso nos últimos tempos. “A cada 100 alunos, 30 são mulheres, um número bastante expressivo”, afirma.

Embora o número de mulheres que estudam e trabalham com bebidas alcoólicas e vinhos esteja sempre em crescimento, ainda existe muito preconceito no ramo.

“É crescente a presença de mulheres na enologia, posso citar vários nomes de enólogas que estão se destacando. Apesar disso, infelizmente sempre esbarramos com alguns preconceitos. Em Portugal fui me candidatar para uma vaga em uma vinícola e o administrador me disse que preferia homens, e não iria contratar mulheres”, destaca Malacarne.

Criando experiências

Foi em sua temporada no Chile que ela criou o projeto The Great Wine Experience Chile. A enóloga explica que a ideia era oferecer uma experiência única e exclusiva aos apaixonados por vinho.

“A gente levava pequenos grupos (família ou amigos) às vinícolas das regiões de Casablanca, Aconcagua, Colchagua e Maipo. O tour privado contava com uma aula sobre vinhos, na qual era explicado todo o processo de produção do vinho, desde o cultivo da uva até a vinificação do vinho na adega. Depois desse tour, os clientes eram conduzidos a uma degustação especial, com os vinhos ícones da adega”, explica Malacarne.

Ela conta ainda que “outra experiência oferecida era a aula de degustação e harmonização de vinhos”, realizada na casa dela em Santiago. “Além de aprender sobre vinhos, o apreciador aprendia a harmonizar com a comida.”

Fique de olho!

Cynthia Malacarne adianta que agora terá uma empresa do tipo no Brasil. A novidade terá como focos principais a educação sobre vinhos, confrarias, degustações e curadoria de vinhos para projetos de adegas residenciais e comerciais. Ela conta que chegou a oferecer cursos online no período da pandemia, e que eles vão continuar. Mas a ideia é poder oferecer cursos presenciais e uma das cidades destino é Brasília.

O que configura um bom vinho para você?

Para mim um bom vinho possui uma ótima acidez natural, taninos e adstringência equilibrados. Também tenho preferência por vinhos com pouca ou nenhuma maturação em madeira. Prefiro vinhos frescos, com teor alcoólico mais baixo, ou seja, máximo de 13% vol. Dou preferência ainda para os vinhos cujo modo de produção é biodinâmico ou orgânico.

Quais suas dicas para quem quer começar a beber vinho?

Sugiro começar com vinhos mais leves, com menor teor alcóolico. Até mesmo por conta do nosso clima quente. Comece pelos vinhos brasileiros e da América do Sul, prove brancos, tintos e espumantes. Com o passar do tempo, a pessoa começa a entender o próprio gosto, e vai comprar vinhos que se ajustam ao paladar. Nosso paladar também evolui. Há vinhos que eu bebia há 10 anos e que hoje não se adequam mais ao meu paladar.

O que devemos observar na hora de comprar um vinho?

Primeiro devemos definir o valor que queremos gastar na compra de um vinho. Dentro dessa faixa de preço, separamos alguns rótulos, e dentre esses observamos a origem. Os vinhos provenientes de regiões mais frias possuem melhor acidez do que os de regiões quentes. Vinhos com melhor acidez são mais fáceis de harmonizar com comida. Outro dado a ser observado no rótulo é se o vinho passou por estágio em madeira, para quem gosta dessa característica no vinho. Geralmente vinhos da América do Sul possuem algumas vantagens tributárias. Por isso, os vinhos originários desses países, normalmente, possuem uma boa relação custo benefício.

Se você pudesse escolher qualquer pessoa do mundo para tomar um vinho. Quem seria?

O vinho é a bebida ideal para compartilhar, reunir os amigos, a família, e ficar horas ao redor da mesa. De preferência repleta de comida que aquece a alma. Hoje, quando penso em quem gostaria de convidar para beber um vinho, penso nos meus amigos, que em virtude da pandemia não pude encontrar.

Fonte: Metrópoles

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